segunda-feira, 2 de março de 2015

Como fazer para manter a atenção do público durante a palestra ou apresentação?

Devemos lembrar que uma palestra é sempre uma via de mão dupla, como dissemos em nossa postagem anterior. Enquanto estamos preparando o conteúdo de nossa apresentação, devemos sempre pensar no ouvinte (no singular, porque falamos para cada um da plateia), pois é ele, ou ela, que irá receber nossa mensagem e irá nos oferecer uma resposta. Vamos nos esforçar para que nosso ouvinte receba uma mensagem que lhe seja prazerosa, compreensível e lhe traga algo novo e útil.

Para que isso aconteça, precisamos, em primeiro lugar, que nossa plateia esteja atenta ao que estaremos apresentando, atenta à nossa fala.

Milo O. Frank, no livro “Como apresentar suas ideias em 30 segundos ou menos”, alerta para o período de atenção das pessoas, que dura apenas 30 segundos. Ora, se a apresentação está prevista para durar meia hora ou quarenta e cinco minutos, como fazer para que as pessoas se mantenham atentas?

O primeiro ponto a ponderar é: - Se as pessoas vieram até ali e estão sentadas numa plateia para nos ouvir é porque tem algum interesse pelo assunto. A responsabilidade de manter esse interesse durante a apresentação é, sem dúvida, do palestrante, isto é, é nossa. Mas podemos ficar tranquilos, essa é uma tarefa possível. Ao utilizarmos algumas técnicas de comunicação, que iremos avaliar, não será tão difícil ter sucesso na apresentação.

O interesse que trouxe a pessoa até o auditório, e uma boa impressão inicial (que já foi assunto de postagem anterior), já são pontos a nosso favor. Agora, vamos tentar entender o que “rouba” a atenção do ouvinte, para neutralizar esse “inimigo”.

Dizem os especialistas que podemos pensar quatro vezes mais rápido, do que conseguimos falar. Do ponto de vista do nosso ouvinte: ele (ou ela) consegue pensar quatro vezes mais rápido do que estamos falando.

O pensamento do ouvinte pode estar, ao mesmo tempo, conectado àquilo que estamos dizendo, ao modo como estamos falando, aos nossos gestos e, ainda estar tendo flashs de memória referentes a preocupações próprias, relativas ao seu trabalho, ao seu estudo ou à sua família. Se continuarmos falando e apresentando nossas ideias, sem nos preocuparmos como isso, é possível que o ouvinte deixe de escutar o que estamos dizendo, e passe a pensar em algo de que se lembrou. A atenção do ouvinte não estará mais onde nos interessa: na nossa fala.

É preciso provocar o ouvinte, atraí-lo novamente, pois os trinta segundos de atenção que tínhamos, acabou de vencer. Como fazer isso? Como “raptar” a atenção do ouvinte e prendê-la novamente ao nosso tema?

Algumas vezes, vi palestrantes apresentando suas ideias de maneira fluente e direta, como quem está entregando algo pronto e acabado. Comparo isso com alguém que enche um copo d’água com uma jarra: despeja tudo de uma vez, até que o copo esteja cheio.

Ora, nossa mente não é como um copo vazio e o conhecimento não é fluido como a água. O que eu quero dizer com isso? O modo como eu compreendo as coisas, certamente não é igual ao modo como você as compreende. Cada pessoa tem uma forma própria de organizar o conhecimento, de absorver aquilo que está sendo dito ou ensinado.

Piaget considerava que o processo de aquisição de novos conhecimentos passa por duas etapas: assimilação e acomodação. A assimilação depende de o ouvinte ter compreendido o que foi dito (foram usados termos que ele conhece e sabe o significado). A acomodação diz respeito a como o ouvinte vai incorporar a novidade aos conhecimentos que já tem. Em outras palavras: nós não transmitimos o nosso conhecimento, nós transmitimos ideias e informações e o nosso ouvinte constrói o seu próprio conhecimento, acomodando o que falamos ao conhecimento que já tem, aumentando assim o seu repertório.

Isso requer que ele (ou ela) pense naquilo que lhe está sendo dito. Se enquanto nós estivermos falando, o ouvinte estiver divagando por outras preocupações, “viajando na imaginação”, não vai assimilar nem acomodar as novidades que estamos trazendo. Mas como provocar seu pensamento, sua curiosidade?

Podemos fazer uso de um recurso que Milo O. Frank chama de “gancho”. O gancho, ensina ele, é aquilo que atrai, seduz, cativa, surpreende, enfeitiça. É aquilo que, numa propaganda, faz com que você tenha desejo de comprar um produto; numa chamada de intervalo, lhe faz continuar vendo o programa da TV; faz que você queira ver o próximo capítulo da novela, ou continuar lendo um livro, ou um texto.

Numa palestra, o melhor gancho é a proposta de uma reflexão. Mas como propor uma reflexão? Como eu fiz inúmeras vezes neste texto e nas postagens anteriores: intercalando perguntas à sua fala.

Quando fazemos uma pergunta durante uma apresentação, conseguimos dois comportamentos: primeiro, o ouvinte irá procurar, nos conhecimentos que já tem, uma resposta mental para o que perguntamos; segundo: ele vai ficar atento, desejoso de saber qual será a nossa resposta à nossa própria pergunta.

Veja, não estamos falando sobre perguntas que requerem um responda como, por exemplo: - quem está aqui pela primeira vez? Estamos falando de perguntas que nós mesmos iremos responder, na sequência de nossa fala, do tipo dessas que intercalei neste texto.

Será que isso é possível? (aí está mais uma) Você, que está lendo, deve ter pensado numa resposta, ao mesmo tempo vai continuar lendo para ver como eu irei responder. Estou certo? (outra). Claro que é possível! Perguntas do tipo: Será que...? Você já imaginou se...? Como seria se ...? fazem com que o ouvinte volte sua atenção para o que está sendo dito. É o “gancho” que precisamos para ter o público atento ao que estamos dizendo.

Outro gancho poderoso é a pausa. Quando estamos falando e temos algo importante para dizer, se o fazemos utilizando um mesmo tom de voz, deixamos de dar à nossa afirmação o destaque que ela merece. Se, no entanto, fizermos antes uma pequena pausa, atrairemos a atenção para o que vamos dizer a seguir. Então, parafraseando o que li em um dos muitos livros de comunicação que já passaram por minhas mãos: “quanto tenho algo importante a dizer... faço uma pausa”.

No início, pode parecer difícil utilizar essas técnicas. Devemos anotar, no nosso roteiro, as perguntas que iremos fazer para manter sua plateia atenta. Com o passar do tempo, com a prática, essa técnica se torna automática e nós a aplicamos sem ter que pensar. É como dirigir um carro: quando estamos aprendendo, temos que olhar para encontrar a alavanca de câmbio, temos que pensar para levar o pé ao pedal da embreagem. Com o tempo, nós fazemos essas manobras automaticamente. Adquirimos a habilidade. Mas, será que é possível adquirir habilidade sem praticar? Essa pergunta eu vou deixar para você responder.

Nesta postagem, tentei alertar para o fato que: é tarefa de quem apresenta um tema, ajudar sua plateia a compreender e assimilar o que foi dito. Para realizar essa tarefa, não deve “despejar” toda a informação, que juntou, como se fosse água da jarra para o copo. É preciso fazer com que o público pense. Isso pode ser conseguido com a utilização dos ganchos, isto é, dos questionamentos e das pausas.

Aplique essas técnicas e preste atenção ao olhar das pessoas. Quando você faz uma pergunta, ou quando você faz uma pausa... antes de uma informação importante, estarão todos olhando atentamente para você, esperando a sua resposta ou a continuidade de sua fala.

Ter a atenção enquanto se fala em público, da uma sensação de prazer que, como diz a propaganda: “não tem preço”.

Espero não ter me alongado demais. Continuamos numa próxima postagem. Se você gostou, compartilhe com seus amigos. Ficou com alguma dúvida? Quer fazer algum comentário? Escreva abaixo ou envie-me um email. Terei prazer em responder. Fique com Deus.

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